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A cultura e as línguas clássicas

Temas a tratar: o latim e o grego — seu estudo; a língua e a cultura; as origens da língua portuguesa; etimologias; a cultura clássica e a cultura portuguesa

A cultura e as línguas clássicas

Temas a tratar: o latim e o grego — seu estudo; a língua e a cultura; as origens da língua portuguesa; etimologias; a cultura clássica e a cultura portuguesa

"Latim esquecido ou desprezado?"

isa, 20.09.11

Este é o título da carta de um leitor do Diário de Coimbra de hoje, na secção "Fala o leitor".

 

Pelo seu interesse, transcrevo partes dessa carta assinada por João Amado Mateus, um leitor de Assafarge, Coimbra:

 

"Antigamente estudava-se nas escolas oficiais do Estado e não só, a língua latina. A partir da década de 60, por infortúnio, o latim tornou-se a pouco e pouco um bicho de sete cabeças, por se considerar ser muito trabalhoso.

Por culpa dos professores? Por culpa dos alunos? Por culpa dos programas de ensino? Por causa da ignorância das vantagens da aprendizagem desta língua rigorosa na sua sintaxe, e na perfeição das suas construções? Esquecemo-nos entretanto que essa língua era e é a mãe da nossa? ... É por isso, e por muitos outros motivos que alunos em avançado nível de estudos universitários ou com eles há muito tempo concluídos não falam nem escrevem português correcto.

Além disso uma grande parte dos nossos alunos do secundário só lê as obras dos nossos clássicos porque são obrigados. ...

A falta deste rigor leva a que não consigamos compreender qualquer texto. No entanto, estou em crer que ainda um dia o erro em que os nossos inteligentes caíram em relação à nossa língua pátria, quando a descuidaram e fizeram descuidar o estudo do latim, será corrigido."

 

Tem razão o senhor João Mateus. Só esperamos que, quando derem conta do erro, não seja demasiado tarde. 

Expressões latinas usadas no quotidiano

isa, 15.09.11

Mesmo não o sabendo, estamos constantemente a utilizar palavras e expressões latinas no uso quotidiano da língua portuguesa.

Alguns exemplos:

 

item: no sentido de "parcela", "artigo" de um texto escrito.

É palavra que em latim significa "do mesmo modo", "igualmente". Lida tal qual se escreve, e não como se fosse uma palavra inglesa, como há dias um senhor ministro do nosso governo pronunciou na TV. 

 

pari passu: quer dizer "com passo igual", expressão que, deturpada, passou a ser usada em português como "a par e passo". Se é certo que a expressão em português tem um sentido idêntico, ela é apenas uma adaptação, pois se perdeu o conhecimento da expressão latina. Dizer que se "acompanha qualquer coisa pari passu" quer significar que se vai ao lado, com passo igual.

 

ex aequo: com igual mérito, utiliza-se, por exemplo, quando se quer anunciar que um 1º prémio foi atribuído a dois concorrentes, sem distinguir nenhum.

aequo  (o ditongo  ae lido na pronúncia tradicional do latim como e, é uma forma do adjectivo aequus que significa igual, justo).


Esta mesma palavra está na raiz de vocábulos portugueses como equidade, equitativo, equivalente, equilibrado, equilíbrio, equilátero, equinócio, equiparar, etc.

 

statu quo: no estado em que as coisas se achavam; manter o statu quo é não permitir mudança, manter tudo como estava anteriormente; usa-se, especialmente, no sentido político-social.


Trata-se do substantivo status que significa  "posição", "situação", e daí "posição social", acompanhado do relativo quo, ambas as palavras no mesmo caso, o ablativo (a expressão aparece, muitas vezes,mal escrita).



Romances de tema clássico

isa, 14.09.11

É impressionante a quantidade de obras de ficção cujo tema se situa na Antiguidade Romana ou Grega. Está na moda este interesse pelo romance histórico e, no que toca à época romana, o número de títulos é considerável. 

 

Ultimamente, também os autores portugueses mais jovens têm sido influenciados por esta "onda", quer com uma trama situada na antiguidade, quer com referências culturais e literárias inseridas na obra.

 

Destaco hoje, apenas como exemplo, dois livros que li recentemente:

 

De Paulo Bogalho, A cabeça de Séneca. — O título remete para o filósofo e mestre de Nero, e é tema de uma tese da principal personagem feminina da obra. São muitas as discussões das personagens sobre esta época do império romano e muitas as referências à cultura romana e à literatura, com destaque para o poeta Horácio, cujos poemas são constantemente citados. Pena é que o autor se inspire apenas na tradução inglesa (que transcreve mesmo, sem tradução) quando devia procurar boas traduções em português, que também existem.

De louvar este gosto pelos clássicos da parte de um jovem autor cuja formação académica é da área da Medicina!

 

De Lívia Borges, Julia Felix - frescos de Pompeia. Um romance histórico com um enredo bem estruturado, que se lê com agrado e entusiasmo.

Quanto a conhecimentos da língua latina, eles falham várias vezes, com frases e expressões incorrectas. É pena!