Asinus in tegulis
Em casa de Trimalquião, o novo-rico extravagante, no fim da ceia contavam-se histórias, cada um procurando impressionar com a sua narrativa. Depois do conviva Níceros, desafiado pelo dono da casa, ter narrado uma história de lobisomens, é a vez de o próprio Trimalquião contar a sua, sobre Feiticeiras da Noite. E, antes de iniciar o seu relato, quer destacar que se trata de algo muito fora do comum, algo “de arrepiar”, uma coisa nunca vista.
Nam et ipse vobis rem horribilem narrabo: asinus in tegulis. (Petrónio, Satyricon, 63)
“ Mas também eu vos quero relatar um caso de arrepiar: um burro no telhado.
O léxico:
— tegulum, teguli : telhado
— tegula, tegulae: telha ; no plural: telhas, tecto, telhado
da mesma raiz do verbo:
— tego, tegis, tegere, texi, tectum: cobrir
— asinus : burro
— asina: burra
— asinarius
Em português
- tégula (termo usado na arqueologia)
- telha
- tecto ...
- asno
- asinino
- asneira
- asnear
O vocábulo asinária tem outras aplicações. Veja-se:
“No decorrer dos séculos a arte de farinar o grão panificável passou por várias metamorfoses. Encontram-se ainda, por aqui, os trituradores da idade da pedra, a mola manuária, da idade dos metais e também a mola asinária – atafona – accionada por animais, geralmente burros – asinus.” In Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865/1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar. ( http://www.alvalade.info/memoria-historica-dos-moinhos-e-moagens-de-alvalade/)
A expressão “um burro no telhado foi recentemente citada num artigo de jornal que comentava a actual política americana.
Artigo transcrito em: http://dererummundi.blogspot.pt/2016/12/um-burro-no-telhado.html#links