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A cultura e as línguas clássicas

Temas a tratar: o latim e o grego — seu estudo; a língua e a cultura; as origens da língua portuguesa; etimologias; a cultura clássica e a cultura portuguesa

A cultura e as línguas clássicas

Temas a tratar: o latim e o grego — seu estudo; a língua e a cultura; as origens da língua portuguesa; etimologias; a cultura clássica e a cultura portuguesa

O POETA

isa, 21.03.12

O poeta tornar-se-á imortal através da sua poesia.

 

À glória do poeta

 

Exegi monumentum aere perennius


Regalique situ pyramidum altius,


Quod non imber edax, non Aquilo inpotens


Possit diruere aut innumerabilis


Annorum series et fuga temporum.               

Non omnis moriar multaque pars mei


Vitabit Libitinam; usque ego postera


Crescam laude recens, dum Capitolium


Scandet cum tacita uirgine pontifex.


Dicar, qua uiolens obstrepit Aufidus               

Et qua pauper aquae Daunus agrestium


Regnauit populorum ex humili potens,

Princeps Aeolium carmen ad Italos


Deduxisse modos. Sume superbiam


Quaesitam meritis et mihi Delphica               

Lauro cinge uolens, Melpomene, comam.

 

Horácio, Odes, III,30

 

Tradução (de Maria Helena da Rocha Pereira, in Romana — Antologia da Cultura Latina)

 

Erigi monumento mais duradouro do que o bronze,

e mais alto do que as decaídas, régias Pirâmides,

quem nem a chuva voraz, nem o Aquilão, impotente,

poderão destruir, nem dos anos a incontável

sucessão e a passagem dos tempos.

Não morrerei de todo, e de mim a maior parte

escapará a Libitina. No louvor dos pósteros crescerei

renovado, enquanto ao Capitólio ascender

o Pontífice com a Vestal silenciosa.

De mim se dirá que, onde o Áufido corre impetuoso

e onde Dauno, escasso em águas,

sobre povos agrestes reinou, do nada me erguendo,

fui o primeiro que à Itálica medida afeiçoou

o carme eólico. Podes sentir orgulho

pelo mérito alcançado. E tu, ó Melpómene, digna-te

com o louro de Delfos cingir-me a fronte.

Ode da Primavera

isa, 21.03.12

Hoje lembro o poeta Horácio e a sua Ode à Primavera ( em tradução de M.H. da Rocha Pereira).  O poeta compara a natureza à vida dos homens: na natureza tudo se renova cada ano, mas a vida humana caminha sempre em direcção ao fim, por isso é preciso aproveitar cada dia e cada hora.

 

Foram-se as neves e aos campos já a relva regressa

          e às árvores a folhagem;

a terra muda a sua face, e, deixando as margens,

          os rios decrescem.

 

Uma Graça mais as duas irmãs, nuas, ousam dançar

          com as Ninfas.

Não esperes pela imortalidade, adverte-te o ano e a hora

          que arrebata o dia criador.

 

Ao sopro dos Zéfiros, abranda o frio; à Primavera sucede

          o Verão perecedouro, e logo

o copioso Outono espalhará seus frutos; de seguida

           a bruma inerte regressa.

 

Porém o suceder das Luas depressa repara os danos vindos do céu.

          Mas nós, logo que tombamos

no lugar onde está o piedoso Eneias, o opulento Tulo e Anco,

          mais não somos do que pó e sombra.

 

Quem sabe se à soma dos dias de hoje

          juntarão os deuses supernos as horas de amanhã?

Das mãos ávidas do teu herdeiro se escaparão todos os bens

          com que o teu ânimo regalaste.

 

Uma vez morto e ao magnífico julgamento

          de Minos submetido,

nem linguagem, nem eloquência, nem piedade,

          te farão viver.

 

Das infernais trevas, nem Diana liberta

          Hipólito casto,

nem Teseu das cadeias do Letes consegue soltar

          o caro Pirítoo.

 

(Odes, IV.7)